Representantes da comunidade judaica voltaram a criticar nesta terça-feira (14) o presidente Luiz Inácio Lula da Silva após nova declaração em que ele compara as ações de Israel na guerra com o grupo terrorista Hamas. Ao defender a criação do Estado da Palestina, o petista disse não ser justo nem correto Israel ocupar a Faixa de Gaza e expulsar os palestinos de lá e que a atitude do Exército israelense é “igual ao terrorismo”.
Para o rabino Rav Sany, diretor do Olami Faria Lima, a insistência de Lula revela a necessidade de “conhecer melhor o assunto”. “O presidente insiste em comparar o incomparável: uma organização terrorista como o Hamas, que usa seus próprios cidadãos como escudo humano, com um estado democrático e pluralista, como Israel, que só quer se defender do ataque bárbaro e selvagem, além do desejo de resgatar reféns. Lamento profundamente”. O rabino também sustentou que, ao contrário do que alega Lula, Israel não está atacando os hospitais, “está entregando combustível para funcionar e o Hamas o confisca”.
A nova comparação foi feita nesta terça-feira (14), durante o programa Conversa com o Presidente, nas redes sociais. “É verdade que houve ataque terrorista do Hamas, mas o comportamento de Israel fazendo o que está fazendo com criança, hospital, com mulheres […] é igual ao terrorismo”, declarou Lula.
Em nota, o Instituto Brasil Israel (IBI) manteve a posição contra a avaliação feita por Lula. “É uma pena que o governo do Brasil, diante da tragédia da guerra, perca o equilíbrio e a ponderação, reduzindo a possibilidade de contribuir de maneira decisiva e propositiva com negociações entre as várias partes no conflito”, declarou, completando que a acusação feita pelo presidente “reforça os extremistas de ambos os lados e enfraquece as partes que lutam por um futuro de coexistência para israelenses e palestinos”.
O presidente da Confederação Israelita do Brasil (Conib), Claudio Lottenberg, classificou como “equivocadas e perigosas” as falas de Lula. “Além de equivocadas e injustas, falas como essa do presidente da República são também perigosas. Estimulam entre seus muitos seguidores uma visão distorcida e radicalizada do conflito, no momento em que os próprios órgãos de segurança do governo brasileiro atuam com competência para prender rede terrorista que planejava atentados contra judeus no Brasil”, disse Lottenberg. “A comunidade judaica brasileira espera equilíbrio das nossas autoridades e uma atuação serena que não importe ao Brasil o terrível conflito no Oriente Médio”, acrescentou.
Nesta segunda-feira (13), lideranças políticas e religiosas também rebateram a declaração do presidente. A fala foi classificada por autoridades como equivocada e “fruto de desconhecimento” sobre a “selvageria” do Hamas, que causou mortes de civis e crianças em atentados.
Representantes da comunidade israelita no Brasil reagiram à declaração de Lula. O líder do Grupo Parlamentar de Amizade Brasil-Israel, deputado Gilberto Abramo (Republicanos-MG), definiu o comentário como “equivocado”. Ao R7, ele disse que Lula sabe e conhece a situação de conflito na Faixa de Gaza, “mas não admite a realidade dos fatos”.
O parlamentar também afirmou que os movimentos de Israel e do Hamas são “completamente distintos”. “O Hamas, quando atacou Israel, em nenhum momento avisou civis ou quem quer que seja do ataque, que foi premeditado para atacar civis. Israel, por outro lado, pediu para que os civis palestinos saíssem da Faixa de Gaza. O que percebemos é que o próprio grupo Hamas é que faz as pessoas de escudo humano”, completou.
Durante o programa Conversa com o Presidente desta segunda-feira, Lula insistiu nas críticas a Israel. “Estou percebendo que Israel parece que quer ocupar a Faixa de Gaza e expulsar palestinos de lá; isso não é correto, não é justo. Temos que garantir a criação do Estado da Palestina”, disse.
O presidente executivo do grupo StandWithUs Brasil, André Lajst, disse que as falas de Lula são graves.
“O presidente brasileiro equiparou Israel, um Estado democrático, com um grupo terrorista com intentos abertamente genocidas que massacrou cerca de 1.200 pessoas — dentre elas, três brasileiros — e sequestrou 240 pessoas”, disse a entidade. “Israel não mata ‘inocentes sem nenhum critério’”, acrescentou. O grupo afirma ainda que todas as vidas perdidas nesse conflito são de igual valor, palestinas e israelenses. “E é lastimável que tantos civis inocentes estejam morrendo. Justamente por causa disso, é necessário compreender corretamente as causas dessa tragédia e os verdadeiros responsáveis por ela”, concluiu.
Chegada de brasileiros e familiares
Os 32 brasileiros resgatados da Faixa de Gaza chegaram a Brasília, onde foram recebidos por Lula. O pouso, na noite desta segunda-feira (13), encerrou a longa espera pela repatriação do grupo que ficou mais de um mês retido no enclave onde Israel trava uma guerra contra o grupo terrorista Hamas.
Após a chegada do grupo de 32 pessoas ao Brasil, o petista afirmou que o governo tem responsabilidade de procurar mais brasileiros e parentes de brasileiros que estão no conflito. “O Brasil vai continuar brigando pela paz”, comentou.
ONU
Lula classificou ser “inadmissível” que ainda não tenha sido encontrada uma solução para o conflito. Em sua avaliação, o Brasil fez um trabalho “extraordinário” à frente do Conselho de Segurança da Organização das Nações Unidas (ONU) em outubro. Nesse sentido, ele voltou a criticar o direito de veto dos integrantes permanentes do órgão. “A ONU precisa mudar”, comentou. “A ONU de 1945 não vale mais nada em 2023.”
Fonte: r7