As recentes dispersões geradas pela Operação Caronte na Cracolândia, na praça Santa Isabel, no centro de São Paulo (SP), geraram ao menos 16 novos pontos com concentração de pessoas em situação de rua e com uso abusivo de drogas.
O número é de um levantamento realizado pelo LabCidade, laboratório de pesquisa da FAU-USP (Faculdade de Arquitetura e Urbanismo da Universidade de São Paulo), que acompanhou e identificou locais com a presença dos chamados “fluxos” na região central paulistana.
Os pesquisadores criaram um mapa que mostra onde estão esses novos pontos, que ocupam um raio inferior a 750 m da praça Princesa Isabel. Segundo eles, essas aglomerações não se reduziram, mas, espalhadas, agora estão em “concentrações menores e itinerantes”.
O estudo dá conta de um total entre 1.000 e 2.000 pessoas que transitam por esses pontos, em esquinas de bairros como Luz, Santa Cecília, República e Campos Elíseos, embora não seja possível calcular esse número com precisão, uma vez que as ações policiais as dispersam com alguma frequência.
A dificuldade para realizar essa contagem de forma definitiva atrapalha a implementação de políticas públicas, afirmam os responsáveis pelo levantamento: “Se não é possível sequer saber o tamanho dessa população, as ofertas de serviços de saúde e assistência social ficam, sem dúvida, ainda mais comprometidas”.
Para além disso, prosseguem, a violência empregada em ações policiais gera desconfiança entre as pessoas em vulnerabilidade ao receberem assistência do poder público.
A pesquisa ressalta, ainda, que os números e o mapa correspondem às áreas no entorno da praça Santa Isabel, onde ocorreu a operação em maio. Portanto, o levantamento não considera outros locais da capital paulista com concentração de pessoas em situação de rua ou consumindo drogas abusivamente.
Comparando a Operação Caronte às ações da gestão de Gilberto Kassab na Cracolândia em 2012, os pesquisadores afirmam que as atuais ações da Polícia Militar e da Guarda Civil Metropolitana “apenas repetem o roteiro de intimidação e violência, com uso de cassetetes, spray de pimenta e bombas de gás, para evitar e dispersar as concentrações de pessoas em situação de rua, mantendo-as circulando por diversos pontos do centro da cidade”.
Posicionamento
À reportagem, a Prefeitura de São Paulo (SP) afirmou que as ações do Programa Redenção ampliaram o atendimento a dependentes químicos e reduziram a quantidade de pessoas que consomem drogas nas ruas.
A gestão cita o aumento de 19% nas abordagens das equipes de assistência social entre janeiro e junho, e a elevação do número de pessoas atendidas, em 31%. Os acréscimos, na avaliação da prefeitura, estão ligados à dispersão de usuários no centro.
Acerca do número de pessoas nas ruas, o comunicado afirma que, no mês passado, havia uma média de 687, se somadas todas as pequenas concentrações no centro.
Por fim, a prefeitura trata a pesquisa como ideológico-partidária. “Além de não disponibilizar fonte de dados ou série histórica (que permita uma comparação sobre o tamanho da concentração de pessoas), entre os autores estão a ‘Craco Resiste’ e o chefe de gabinete de um vereador do PT”, afirmou a gestão.