Discriminação em entrevista de emprego: o que fazer quando o recrutador é desrespeitoso?

por Redação

O caso da mulher que viralizou ao postar uma conversa em que foi humilhada por um recrutador que faria uma entrevista de emprego levantou o debate sobre os tipos de medida que podem ser tomados em uma situação como essa.

O representante da empresa atrasou três horas para a entrevista e depois fez comentários irônicos à candidata, Samara Braga, quando ela respondeu que não poderia falar no momento em que ele a chamou, pois levaria o filho à escola.

Ao afirmar que Samara tinha muitos compromissos “para um desempregado” e que “é difícil contratar quem tem filhos”, o recrutador mostrou despreparo e pode ser acionado judicialmente, segundo especialistas ouvidos pelo R7.

Até esta quinta-feira (14), a publicação da candidata tinha quase 30 mil curtidas e mais de 4.000 comentários no LinkedIn, boa parte deles de mulheres que relatam já terem passado pelo mesmo constrangimento.

Danielle Olivares Corrêa, coordenadora nacional de Promoção da Igualdade de Oportunidades e Eliminação da Discriminação do Trabalho, do MPT (Ministério Público do Trabalho), explicou, em entrevista ao R7, que o recrutador em questão pode sofrer uma ação trabalhista, ainda que ele tenha sido discriminatório durante uma entrevista, e não com alguém que já tenha um contrato assinado com a empresa.

“A própria candidata, que se sentiu ofendida, pode denunciá-lo. Ele também pode ser réu numa ação civil pública para que se abstenha desse tipo de prática. Caso seja comprovado que houve, de fato, a discriminação, a empresa fica sujeita ao pagamento de uma multa e pode ser impedida de solicitar empréstimo a bancos públicos”, ressalta Danielle.

A coordenadora do MPT ainda expõe que casos em que o entrevistador exige atestado de gravidez pode se configurar até mesmo como crime.

Apesar de saber que poderia entrar na Justiça contra o recrutador, Samara afirma que nem mesmo na postagem quis divulgar o nome completo do homem ou da empresa, porque não quer prejudicar nenhum dos dois.

“Fiquei muito indignada quando li aquilo. A primeira coisa que veio à minha cabeça foi ‘como que quem está desempregado não tem compromisso?’ Eu penso que não só a empresa dele, mas diversas outras fazem isso. É todo um sistema que coopera para que isso aconteça”, relatou a candidata em entrevista à Record TV.

Samara conta que esperou por muito tempo o recrutador dar alguma explicação, ou ao menos agendar a entrevista para um outro momento. Porém, no horário em que ele ligou, às 11h, ela estava arrumando o filho para ir à escola e também preparando um pudim para vender e ajudar em sua renda.

Entrevistador despreparado
Para a psicóloga organizacional da Gente & Gestão, companhia focada em cultura corporativa, Cláudia Danienne, o recrutador deste caso viral estava despreparado e foi desrespeitoso com a candidata.

“Existem no mercado profissionais qualificados para conduzir entrevistas, que deixam o candidato à vontade e procuram explorar as experiências vivenciadas para acrescentar na empresa, e outros que não, como em qualquer área de saber”, afirmou.

A especialista ressalta a importância de a empresa ter um recrutador bem preparado, uma vez que ele possivelmente estará lidando com uma pessoa que pode estar ansiosa, realmente precisando da vaga, ou vindo frustrada de possíveis outras entrevistas.

Cláudia ainda aborda fatores como a forma de interação entre o entrevistador e o candidato, procurando conhecer detalhes, mas sem discriminar a pessoa; dar satisfação caso haja algum empecilho com o horário entre ambos; e ser verdadeiro ao relatar o perfil de profissional que a empresa busca, bem como o próprio concorrente da vaga contar sobre sua rotina. “Dá para flexibilizar. Os dois podem encontrar uma alternativa.”

Alberto Felippo, que é coordenador de RH (recursos humanos) na Pitzi, concorda que o recrutador estava despreparado e afirma que, hoje em dia, muitas empresas fazem entrevistas “mais descontraídas”, que fogem do tradicional, e isso tem dado certo.

“Aquilo de pedir para a pessoa dizer um defeito ou uma qualidade, se tem filho ou não, quem vai cuidar do filho… a gente prefere não fazer esse tipo de pergunta que aprendemos na faculdade. A gente pergunta os hobbies, os livros, séries, filmes de que gosta. Se ela quiser dar alguma informação a mais é porque se sentiu confortável para falar”, comenta.

Felippo conta que geralmente entrevista oito pessoas para uma vaga e às vezes, no segundo candidato, já sabe que aquele será escolhido, porém mantém as opções, até mesmo para uma possível futura oportunidade.

“O processo seletivo é um momento em que a pessoa também decide em qual empresa vai trabalhar; se começa com algum tipo de atrito logo na entrevista, a relação não será boa”, opina o profissional de RH.

Existe lei a favor das mães no mercado de trabalho?
Fernanda Prado, advogada trabalhista empresarial, especialista em governança ambiental, social e corporativa, conta que não existe uma lei que obrigue as empresas a contratar mulheres que são mães, e sim um regulamento que cria um selo para companhias que empregam mais mulheres e se destacam pela organização e manutenção de creches e pré-escolas para atender às necessidades de seus empregados.

Além disso, a legislação trabalhista veda a prática de discriminação no trabalho, e critérios como gravidez e situação familiar não podem gerar prejuízos nem desvantagens aos candidatos.

“Também existe, dentro da legislação, uma sanção para empresas que demitem funcionárias durante a gestação, ou até mesmo após o parto. Ela tem uma estabilidade de até quatro meses, e, se for demitida, a empresa tem que indenizar”, afirma a defensora.

No caso de Samara, Prado explica que ela pode entrar na Justiça contra o recrutador por danos morais. “As empresas precisam se atentar às nuances da diversidade, até porque elas têm uma função social para com a comunidade. Um caso como esse pode manchar a imagem da empresa.”

Para Gabriela Claudiano, advogada trabalhista do escritório Freitas Avelino, Samara sofreu uma discriminação por ser mãe e, com o print, ela tem a prova deste preconceito.

“A maior dificuldade que existe nesse tipo de caso é a própria comprovação, quando ocorre pessoalmente é mais difícil. Talvez, só esse print não seria o suficiente para conseguir uma indenização, mas nada que ela não possa tentar”, explica.

Gabriela também destaca que não dá para estimar o valor da indenização neste caso, uma vez que depende da situação e da empresa em questão.

Fonte: r7

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