Um vídeo publicado no TikTok pela residente em oftalmologia Mariana Mendes chamou atenção dos internautas ao mostrar um caso de ceratocone em que o paciente, ao coçar os olhos, gera uma hidropsia, ocasião em que a última camada da córnea é rompida, e faz com que os fluídos oculares adentrem regiões mais internas e, consequentemente, provocam a perda da visão.
De acordo com o oftalmologista Halim Féres Neto, do COB (Conselho Brasileiro de Oftalmologia), o ceratocone é uma doença ocular progressiva que afeta a córnea, parte transparente do olho, responsável por receber as imagens e focá-las dentro dos olhos.
A córnea deve ser curva e lisa. Quando ocorre o ceratocone, esse tecido passa a se afinar e adquirir o formato de cone. “Para exemplificar isso, gosto de comparar uma bola de futebol com um ovo: em um olho normal, a córnea tem uma curva mais parecida com a da bola de futebol. No ceratocone, a córnea é mais curva, como a ponta de um ovo”, alega Neto.
Caio Regatieri, oftalmologista da UPO (Unidade Paulista de Oftalmologia), complementa que essa alteração provoca, então, alterações na visão e distorções e tira a nitidez de objetos distantes.
As causas do ceratocone não são totalmente esclarecidas. No entanto, os especialistas afirmam que fatores genéticos podem estar associados a ele, ao afetar a rigidez da córnea e diminuir a sua espessura.
Além disso, existe um componente comportamental: o ato de coçar os olhos, que faz com que as fibras estruturais se tornem mais fracas e mais suscetíveis ao afinamento e à curvatura do tecido ocular.
O diagnóstico é feito com o auxílio de um oftalmologista, que verificará o histórico médico e poderá analisar a estrutura ocular por meio de exames, como a topografia corneana e a paquimetria, para mapear a curvatura e a espessura da córnea, e a aberrometria, que pode verificar as irregularidades visuais.
Entre os sinais de suspeita, Neto destaca alterações constantes nos graus de óculos, com astigmatismo cada vez mais alto; óculos que nunca ficam adequados; exames com resultados diferentes entre profissionais distintos; alta sensibilidade à luz; coceira nos olhos, o que pode, também, dar sinais de alergias oculares, que devem ser tratadas; e piora na visão noturna.
Já os tratamentos variam conforme a gravidade de cada caso e podem incluir o uso de óculos e lentes especiais. Conforme a progressão da doença, pode haver a necessidade de procedimentos cirúrgicos, como o crosslinking corneano, para fortalecer o tecido, e casos avançados podem necessitar do transplante de córnea.
A falta de tratamento do ceratocone pode ocasionar complicações na visão, interferir na nitidez das imagens, gerar sensibibilidade à luz, intolerância ao uso de lentes de contato e aumento nos graus de miopia e astigmatismo. Casos que gerem cicatrizes e interfiram na visibilidade podem, também, exigir o transplante do tecido.
Quanto à hidropsia, como ocorreu no vídeo, os especialistas esclarecem que se trata de casos avançados de ceratocone e são raros. Tal complicação causa inchaço, dor e perda de visão súbita. Os tratamentos da hidropsia corneana podem envolver o uso de lentes específicas, e, dependendo da gravidade, a resolução se dá apenas com o transplante de córnea.
“É importante destacar que o acompanhamento oftalmológico regular é fundamental para o tratamento adequado do ceratocone. O diagnóstico precoce e o cuidado podem ajudar a retardar a progressão da doença e minimizar suas complicações”, finaliza Regatieri.
Fonte: r7