As estátuas de Hugo Chávez, na Venezuela, têm sido alvo da agitação causada pelo anúncio do Conselho Nacional Eleitoral da Venezuela (CNE) de que o presidente Nicolás Maduro teria vencido novamente as eleições no país. A oposição acusa o governo de manipular os resultados.
Na segunda-feira (29), foram registrados 187 protestos em 20 dos 23 estados, segundo a organização Observatório Venezuelano de Conflitos Sociais.
Em meio aos protestos, foram derrubadas cinco estátuas em homenagem a Hugo Chávez, que governou o país de 1999 até sua morte, em março de 2013.
A violenta repressão das autoridades aos protestos deixou vários mortos, embora as informações neste momento sejam confusas em relação aos números.
Segundo a ONG Foro Penal, pelo menos 6 pessoas perderam a vida (1 em Aragua, 1 em Táchira, 2 em Yaracuy e 2 em Zulia), enquanto a organização National Hospital Survey registrou 3 mortes, 2 em Maracay e uma em Caracas. Há também dezenas de feridos.
Segundo relatos da mídia local e o que pode ser visto em vídeos divulgados nas redes sociais, as estátuas destruídas estavam em cinco estados: Aragua, Carabobo, Falcón, Guárico e La Guaira.
Esta não é a primeira vez que monumentos em homenagem ao líder da chamada Revolução Bolivariana foram destruídos. Algo semelhante aconteceu em 2017 e 2019. Porém, o que chama a atenção nesta ocasião é a quantidade de estátuas atacadas e o curto período de tempo em que isso ocorreu.
Porém, há quem observe outra diferença: quem realizou a derrubada.
“Maduro conseguiu, com a sua conduta e comportamento antipopular, garantir que as pessoas que tanto amavam Chávez sejam hoje aquelas que derrubam as suas estátuas e saem para protestar contra a sua suposta reeleição”, disse um alto funcionário do governo à BBC News Mundo.
Várias das regiões onde foram registrados ataques a monumentos eram consideradas bastiões eleitorais do chavismo até pouco tempo atrás.
Por exemplo, no Estado costeiro de La Guaira, localizado a apenas 30 km a norte de Caracas, todos os governadores são do partido do governo desde 1998. Algo semelhante aconteceu em Falcón, que fica cerca de 445 km a noroeste da capital venezuelana.
Erro estratégico
A demolição das estátuas não parece ter sido ordenada por nenhum setor da oposição, mas sim o resultado da desordem e insatisfação popular durante as manifestações.
Porém, há quem acredite que essas ações são contraproducentes aos objetivos do setor que busca tirar o chavismo do poder.
“Isso tem um peso simbólico, mas não traz nenhum favor aos setores democráticos venezuelanos”, disse a analista política Carmen Beatriz Fernández à BBC News Mundo, o serviço em espanhol da BBC.
“Quando você vê que os dados que a oposição mantém são verdadeiros, você vê que 30% do eleitorado votou em Maduro e antes disso certamente votou em Chávez. Ainda um em cada três eleitores é chavista e este tipo de ação poderia galvanizar o chavismo”, explicou a professor da Universidade de Navarra (Espanha).
“As estátuas deveriam ser derrubadas quando o regime mudar, não antes”, concluiu, numa clara referência ao que aconteceu no Iraque, após a invasão dos EUA em 2003; ou o que aconteceu após o colapso da União Soviética no início da década de 1990.
Culto à personalidade
Monumentos a Chávez começaram a ser erguidos em diferentes áreas da Venezuela depois que ele morreu, em 5 de março de 2013, em consequência do câncer detectado em meados de 2011.
As estátuas foram seguidas de batizados de escolas, hospitais, estádios e outras obras públicas. Tudo isso apesar de o líder ter sido publicamente contra esse tipo de ação quando era vivo.
“Peço-lhe que não coloque meu nome em nada”, pediu Chávez em 3 de agosto de 2008, durante seu programa “Alô, Presidente”.
“Não, não, não. Nada de Rua Hugo Chávez, nada de Ponte Hugo Chávez. Não, pelo amor de Deus, isso traz azar. Devemos nomear (essas estruturas) com os nomes dos heróis (da Independência)”, acrescentou o então presidente venezuelano.
No entanto, os especialistas consideram que as palavras do falecido presidente não estavam em sintonia com as suas ações, já que ao longo dos seus quase 14 anos no poder incentivou e permitiu que surgisse um culto à sua personalidade.
Uma das maneiras pelas quais exaltou sua imagem foi por meio de suas constantes aparições no rádio e na televisão.
“Desde que Chávez chegou ao (palácio presidencial de) Miraflores, os canais atingiram um nível de frequência incomum. Eles foram usados como uma forma de invadir os lares venezuelanos e alimentar o culto à personalidade do líder”, escreveu o cientista político Trino Márquez em um artigo.
Fonte: G1