Dados do Ministério Público apontam que as mortes cometidas por policiais militares no estado de São Paulo aumentaram 46% até 17 de novembro deste ano, se comparado a 2023.
De janeiro a 17 de novembro deste ano, 673 pessoas foram mortas por policiais militares, contra 460 nos 12 meses do ano passado. Dessas 673 mortes, 577 foram praticadas por policiais em serviço, ou seja, trabalhando, e 96, de folga. Média de duas pessoas mortas por dia.
Nos últimos quatro meses, casos de violência policial em todo o estado repercutiram entre autoridades e entidades de direitos humanos. Veja abaixo os principais casos divulgados pelo g1 entre agosto e dezembro:
Tiros na cabeça de suspeito rendido
Em 3 de agosto, um policial militar deu dois tiros na cabeça de um suspeito que já estava rendido, deitado no chão, mas que resistiu à prisão em Guarulhos, na Grande São Paulo. A ação foi registrada pela câmera corporal do agente.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), a ocorrência aconteceu após policiais perseguirem e abordarem dois indivíduos que tentaram fugir em um veículo furtado.
A SSP disse que um dos suspeitos foi preso; o outro, que aparece no vídeo, de acordo com a pasta, “entrou em luta corporal e sacou um revólver contra o agente”.
O homem, mesmo baleado duas vezes na cabeça, foi encaminhado ao Hospital Geral de Guarulhos, mas não resistiu aos ferimentos.
O vídeo mostra o policial tentando prender o homem, que resiste. “Põe a mão para trás, põe a mão para trás, c***. Tira a mão da cintura”, grita o policial, enquanto dá uma série de socos no suspeito.
“Você vai tomar um tiro! Tira a mão da cintura”, diz o policial, que saca a arma e aponta para o homem, que aparece com o rosto ensanguentado. Enquanto recebe mais socos, o homem chega a gritar por socorro algumas vezes.
A SSP informou que a Polícia Militar abriu um inquérito para investigar as circunstâncias da ocorrência. Em nota ao g1, a Ouvidoria da Polícia do Estado de São Paulo afirmou, à época, que “as imagens demonstram, numa primeira análise, erro procedimental que já vem se tornando fato comum na escalada da violência policial no presente período”.
Spray de pimenta no rosto de morador de Heliópolis
Um vídeo registrou o momento em que um policial militar jogou spray de gás pimenta no rosto de um morador que caminhava sozinho pela rua de uma comunidade da Zona Sul de São Paulo em 28 de setembro (veja acima).
Segundo testemunhas ouvidas pelo g1, a agressão ocorreu durante uma operação da Polícia Militar contra “pancadões” na Rua Coronel Silva Castro em Heliópolis, maior favela da capital paulista.
Nas imagens, é possível ver quando um policial armado com fuzil se aproximou do morador que andava cambaleando próximo a uma viatura da PM. O agente caminhou em direção a ele, apontou o equipamento e apertou um botão para jogar o spray na vítima. A fumaça do gás aparece nas cenas.
Em seguida, o homem se desequilibrou e encostou no carro da Polícia Militar. O mesmo agente que jogou o gás nele o repreende com xingamentos. Na época, a PM informou que iria apurar a denúncia por meio de um Inquérito Policial Militar.
Morte de mulher durante troca de tiros
Uma mulher de 33 anos foi morta em 6 de outubro no bairro do Ipiranga, Zona Sul de São Paulo, 20 dias antes do casamento dela.
Francisca Marcela da Silva Ribeiro foi atingida durante uma troca de tiros entre um PM de folga e dois criminosos que tinham roubado a moto em que ela estava com o noivo, abastecendo em um posto de combustíveis.
Segundo a Secretaria da Segurança Pública (SSP), o policial de folga interveio no roubo da moto após os criminosos dispararem. Um dos tiros atingiu Francisca Marcela. A família afirma que o disparo que matou a mulher saiu da arma do policial. Os dois ladrões, de 20 e 22 anos, foram presos em flagrante.
Mãe e irmão agredidos por PMs em velório
O irmão e a mãe de um dos jovens que morreu baleado em um confronto com PMs em Bauru, interior de SP, foram agredidos por policiais durante o velório da vítima em 18 de outubro (veja abaixo).
Guilherme Alves Marques de Oliveira, de 18 anos, e Luis Silvestre da Silva Neto, de 21, foram mortos durante uma intervenção policial no Jardim Vitória na noite de 17 de outubro.
Vídeos gravados durante o velório dos dois jovens, que era realizado no mesmo lugar, no Cemitério Cristo Rei, mostram que pelo menos cinco policiais militares entraram no local e tentaram render o irmão de Guilherme, que estava com a mãe ao lado do caixão.
Ainda no vídeo, dá para ver que a mãe abraça o jovem na tentativa de impedir que ele seja levado pelos policiais. Os dois são agredidos com cacetete e, em determinado momento, ela é empurrada e se choca contra uma pilastra do local.
As imagens ainda mostram que os policiais dão tapas no jovem e levam-no para fora da sala do velório.
Em nota, a Secretaria de Segurança Pública afirmou que a Polícia Militar instaurou um inquérito para investigar a conduta dos envolvidos e que um dos agentes foi afastado das atividades operacionais.
Menino de 4 anos morto em confronto policial
Uma criança de 4 anos morreu após ser baleada durante um confronto policial no Morro São Bento, em Santos, no litoral de São Paulo, em 6 de novembro. Dois adolescentes, de 15 e 17 anos, também foram atingidos durante a troca de tiros.
De acordo com o boletim de ocorrência, a ação aconteceu durante um patrulhamento de rotina da Polícia Militar por volta de 20h15 entre as ruas São Sérgio e São Fernando.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo(SSP) lamentou a morte de Ryan durante um confronto. A pasta informou, ainda, que a Delegacia Seccional de Santos instaurou um inquérito para apurar os fatos e determinou a realização de perícia nas armas apreendidas e no local do confronto para esclarecer a origem do disparo que atingiu a criança.
Segundo a SSP, sete policiais envolvidos na ação foram afastados das ruas.
Estudante de medicina morto por PMUma criança de 4 anos morreu após ser baleada durante um confronto policial no Morro São Bento, em Santos, no litoral de São Paulo, em 6 de novembro. Dois adolescentes, de 15 e 17 anos, também foram atingidos durante a troca de tiros.
De acordo com o boletim de ocorrência, a ação aconteceu durante um patrulhamento de rotina da Polícia Militar por volta de 20h15 entre as ruas São Sérgio e São Fernando.
Em nota, a Secretaria da Segurança Pública do Estado de São Paulo(SSP) lamentou a morte de Ryan durante um confronto. A pasta informou, ainda, que a Delegacia Seccional de Santos instaurou um inquérito para apurar os fatos e determinou a realização de perícia nas armas apreendidas e no local do confronto para esclarecer a origem do disparo que atingiu a criança.
Segundo a SSP, sete policiais envolvidos na ação foram afastados das ruas.
Estudante de medicina morto por PM
Um estudante de medicina foi morto com um tiro à queima-roupa, em 20 de novembro, durante uma abordagem policial, na escadaria de um hotel na Rua Cubatão, na Vila Mariana, Zona Sul de São Paulo. A ação foi registrada por uma câmera de segurança por volta das 2h50 (veja acima).
Os PMs Guilherme Augusto Macedo e Bruno Carvalho do Prado estavam em patrulhamento pelo bairro quando Marco Aurélio Cardenas Acosta, de 22 anos, teria dado um tapa no retrovisor da viatura e fugido. Ele cursava medicina na Universidade Anhembi Morumbi.
Segundo o boletim de ocorrência, o jovem correu e entrou no Hotel Flor da Vila Mariana, onde estava hospedado com uma mulher. Os policiais relataram que ele estava bastante alterado e agressivo.
Nas imagens, é possível ver que o jovem entrou no saguão do hotel sem camisa e foi perseguido pelos policiais. Um dos agentes tentou puxar Marco Aurélio pelo braço, enquanto o outro o chutou. Em seguida, o estudante segurou a perna do policial, que caiu no chão.
O PM Guilherme, então, atirou na altura do peito do estudante. No boletim de ocorrência, os policiais alegaram que o jovem teria tentado pegar a arma de Bruno. Ele foi socorrido e encaminhado ao Hospital Ipiranga, onde teve duas paradas cardiorrespiratórias e passou por uma cirurgia. Contudo, não resistiu aos ferimentos e morreu por volta das 6h40.
Segundo a SSP, os PMs envolvidos no assassinato foram afastados de suas funções até o final das investigações.
Jovem negro executado em frente a mercado
Câmeras de segurança registraram o momento em que Gabriel Renan da Silva Soares, de 26 anos, é executado a tiros pelo policial militar Vinicius de Lima Britto em frente a um mercado Oxxo no Jardim Prudência, na Zona Sul de São Paulo, em 3 de novembro. O jovem é acusado de furtar quatro pacotes de sabão.
Pelas imagens, Gabriel vestia um moletom vermelho com capuz, quando entrou no mercado às 22h44. Em seguida, ele andou até a seção de limpeza, onde pegou quatro produtos. Na fuga, ele escorregou num pedaço de papelão na porta do estabelecimento e caiu no chão do estacionamento.
O policial estava no caixa pagando pelas compras, quando percebeu a ação. Vinicius sacou a arma e atirou diversas vezes pelas costas de Gabriel, que tentava fugir. O jovem morreu no chão do estacionamento. Segundo o boletim de ocorrência, foram encontradas 11 perfurações pelo corpo dele.
No depoimento na delegacia, o PM disse que Gabriel estava armado e com a mão no bolso do moletom, razão pela qual ele atirou. Vinicius alegou que agiu em legítima defesa.
Homem jogado por PM em córrego
Um policial militar jogou um homem do alto de uma ponte no bairro Vila Clara, localizado na Zona Sul em São Paulo, na noite de domingo (1). Um vídeo flagrou o momento.
Pelas imagens, é possível ver um policial levantando uma moto que está no chão. Um segundo e um terceiro policial se aproximam. Depois, o primeiro PM encosta a moto perto da ponte. Um quarto policial chega segurando o homem pela camiseta azul, que seria o motociclista abordado. Ele se aproxima da beirada da ponte e joga o homem em um córrego.
Moradores da região disseram à TV Globo que o homem sobreviveu à queda e foi ajudado por pessoas em situação de rua que estavam no entorno. Os integrantes da Corregedoria estão tentando localizá-lo para ouvi-lo oficialmente. A identidade da vítima não foi divulgada até a última atualização desta reportagem.
De acordo com informações da Polícia Militar, os agentes são do 24º BPM de Diadema, na Grande São Paulo. O agente que arremessou o homem é da Rondas Ostensivas com Apoio de Motos (Rocam).
A Corregedoria da Polícia Militar afastou das ruas treze policiais envolvidos direta ou indiretamente no episódio. Dois sargentos e 11 cabos e soldados estão sendo ouvidos sobre o caso e ficarão afastados das ruas até o fim das investigações.
Fonte: G1