Quem nunca passou em determinada rua ou avenida e viu fios de energia soltos? Alguns até com a parte interna exposta. Essa situação tem sido motivo de reclamação de muitos paulistanos, que temem tomar um choque ao encostar nos fios pendurados.
Os cabos soltos tendem a ser mais frequentes, uma vez que o furto de fios é crescente. No estado de São Paulo, mais de 1.500 quilômetros de cabos foram furtados entre abril e março, o equivalente à distância entre São Paulo e Porto Seguro (BA).
Criminosos furtam parte dos fios em busca do cobre, material que constitui os cabos e é valorizado no mercado. No local dos furtos, é comum serem deixados fios pendurados.
Se energizados, os cabos soltos podem levar as pessoas a sofrer choque elétrico, com a possibilidade de queimaduras, contração muscular e até a morte, dependendendo da intensidade, explica José Aquiles Grimoni, professor e coordenador do curso de engenharia elétrica da USP (Universidade de São Paulo).
Segundo o especialista, como as pessoas não têm condições de saber visualmente se a fiação está energizada ou não, é melhor evitar contato.
“Um caso muito comum são cabos que caem em cima da lataria de carros com pessoas dentro. Orienta-se que elas evitem sair do veículo se não tiverem garantia de que os fios estão energizados, pois poderão tomar um choque elétrico, que, a depender, pode ser mortal”, ressalta Grimoni.
Foi o que ocorreu com uma família do Rio de Janeiro, que morreu após um cabo de energia elétrica cair sobre o carro em que um bebê, o pai, o tio e o avô dele estavam.
Desvio da fiação
O professor Israel Dantas reclama da mobilidade urbana em Guarulhos, na região metropolitana de São Paulo. Segundo ele, os fios de energia soltos não apenas prejudicam a caminhada e até motoristas, mas geram riscos à vida.
A estudante Manuella Brito, moradora da Brasilândia, na zona norte, conta que sempre atravessa a rua quando vê fios de energia soltos. “Tenho medo de tomar choque”, afirma.
A jovem de 19 anos, que trabalha como aprendiz em uma empresa localizada na avenida Paulista, comenta “as diferenças extremas” entre essa via e outras ruas de bairros de São Paulo. A Paulista é uma das poucas vias da capital que têm toda a fiação enterrada.
“Você sai de um lugar lindo, um ponto turístico renomado, que tem os fios todos escondidos e vem para um ambiente esteticamente feio que, além de ter os cabos soltos, traz risco e ainda tem aquele mutirão de fio pendurado em poste. É horrível”, afirma.
Na chuva, os riscos são maiores
De acordo com o professor e coordenador do curso de engenharia elétrica da Universidade Presbiteriana Mackenzie, em dias de chuva, os riscos de alguma pessoa ser eletrocutada devido aos fios de energia soltos são ainda maiores. “Com o solo úmido, mesmo sem contato físico com o cabo, é possível tomar choque, porque a água consegue levar a eletricidade”, explica.
Quando um cabo se rompe, geralmente a concessionária de energia recebe um alerta para desenergizar o fio automaticamente. Entretanto, esse mecanismo nem sempre é 100% garantido.
O engenheiro Rafael Nóbrega ressalta o fato de que em postes geralmente não existem somente os fios de rede de energia, mas também há cabos de telefonia, internet e televisão, o que gera um acumulado de fiação elétrica e torna difícil para a população saber qual é o cabo de energia e a qual empresa denunciar a situação.
O especialista, que é líder de desenvolvimento de negócios na Hexagon, empresa fornecedora de soluções em tecnologia, evidencia a importância de investir em equipamentos inteligentes para a desenergização imediata do fio e, assim, evitar acidentes. “É questão de segurança”, afirma.
Fonte: r7