O brasileiro pode pagar mais caro pelo pãozinho e massas nos próximos meses. Após a Rússia suspender acordo com a Ucrânia, que permitia exportação de grãos ucranianos, o preço do trigo pode aumentar e ser repassado a seus derivados.
A Rússia afirmou, nesta segunda-feira (17), que não vai prolongar o acordo de exportação de grãos ucranianos, horas após um ataque de drones navais a uma ponte estratégica que liga o território do país à península anexada da Crimeia.
O acordo, negociado pelas ONU e pela Turquia em julho passado, tinha o objetivo de aliviar uma crise global de alimentos, permitindo que os grãos ucranianos bloqueados pelo conflito entre Rússia e Ucrânia fossem exportados com segurança. Ele havia sido prorrogado várias vezes, mas deveria expirar nesta segunda.
A Iniciativa de Grãos do Mar Negro permitiu que 36,2 milhões de toneladas de grãos fossem exportadas da Ucrânia desde agosto, mais da metade para países em desenvolvimento, de acordo com o Centro de Coordenação Conjunta em Istambul.
Para Leonardo Paz, pesquisador do FGV NPII (Núcleo de Prospecção e Inteligência Internacional da Fundação Getulio Vargas), a suspensão poderá impactar o preço do trigo.
“A medida pode ter impacto no Brasil e afetar o bolso do brasileiro. Na época do acordo, para ter uma referência, o preço dos grãos, na média, caiu no mercado global mais ou menos 20%. Então, é de se esperar que a gente comece a assistir um aumento dos preços de alguns desses grãos. No caso do Brasil, especialmente, o trigo, que afeta muito a cadeia, como o pão”, afirma o pesquisador.
Já o presidente-executivo da Abitrigo (Associação Brasileira da Indústria do Trigo), Rubens Barbosa, que não haverá impacto maior em termos de abastecimento global, porque as exportações dos EUA e da Rússia, neste ano, estão adequadas para atender a demanda mundial.
“No caso do Brasil não há importação da Ucrânia e as importações da Rússia são normais”, explica Barbosa. “Os moinhos brasileiros não importam da Ucrânia e, neste ano, as importações da Rússia deverão ser superiores às do ano passado.”
Ele cita que, em relação ao mercado global, houve pequeno aumento nas cotações da Bolsa de Chicago de 2% ou 3%.
O preço do pão francês chegou a variar 7,09% nos últimos 12 meses, segundo o IPCA (Índice de Preços ao Consumidor Amplo) de junho, divulgado na semana passado pelo IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística). Já o preço da farinha de trigo aumentou 3,97% no mesmo período.
Críticas
Leonardo Paz, do FGV NPII, afirma que a suspensão não é uma grande surpresa, porque a Rússia já vinha reclamando dos termos do acordo. “Fundamentalmente, a Rússia vai dizer que por mais que a União Europeia e os Estados Unidos não tenham feito embargo em relação aos produtos agropecuários deles, estão criando embargo a uma série de elementos que inviabilizam a produção agrícola, como empresas que dão crédito e maquinário”, avalia Paz.
Outra crítica russa, segundo Paz, é com relação aos países pobres. “Toda a lógica do acordo do grão está em torno da ideia que os países pobres que mais vão sofrer, só que metade dos grãos ucranianos vai para países ricos, um quarto vai para países de renda média alta e um quarto para países probres. Ou seja, 25% vão para os mais pobres. Enquanto os países ricos vão se aproveitando muito mais dos preços dos grãos do que os mais probres de fato”, explica.
Com relação a importação de fertilizante russo pelo Brasil, ele não vê que será poblema, já que é a Rússia que está embargando o grão dos ucranianos. “Como o Brasil tem acordo com a Rússia, em relação aos fertilizantes, até esse momento não tem informações de que atrapalharia”, afirma o pesquisador. “Acho que a questão é o preço de alguns gêneros que vão começar a aumentar em função do fim desse acordo.”
Fonte: r7