A Prefeitura de São Paulo encerrou as negociações com o Grupo Silvio Santos e pagará R$ 65 milhões para adquirir o terreno do futuro Parque Bixiga, na Bela Vista, no Centro da capital paulista.
O valor é superior ao inicialmente previsto pelo Ministério Público de São Paulo e pela gestão municipal .
Em dezembro do ano passado, o órgão anunciou que a prefeitura destinaria R$ 51 milhões do dinheiro que deve receber da Uninove para a compra do parque.
À época, a universidade fechou um acordo com o MP e a gestão municipal para evitar um processo por suspeita de pagamento de propina (leia mais abaixo).
Em abril deste ano, o Grupo Silvio Santos enviou um ofício à prefeitura propondo a venda por R$ 80 milhões.
Segundo o prefeito Ricardo Nunes (MDB), durante as negociações, a Procuradoria Geral do Município fez uma avaliação e o valor definido “ficou em torno de R$ 65 milhões”. Nunes afirmou, ainda, que os R$ 14 milhões restantes serão completados pelo município.
O g1 entrou em contato com o GSS e aguarda retorno.
MP considera valor razoável
Ao g1, o promotor Silvio Marques, da Promotoria de Justiça do Patrimônio Público e Social da Capital, responsável por conduzir o acordo com a Uninove, avaliou como positivo o resultado das negociações.
Silvo Marque acredita que, uma vez assinada a venda, a prefeitura poderá adquirir o terreno, mesmo ainda não tendo recebido o pagamento da Uninove.
Segundo o promotor, um dos mantenedores da universidade fez uma contestação e, por isso, a sentença ainda não transitou em julgado.
Silvio afirmou, porém, que todas as alegações feitas pelo mantenedor foram rejeitadas. “Acreditamos que nos próximos meses já teremos uma definição e o dinheiro será depositado.”
O promotor disse ainda que irá recomendar à prefeitura que faça um concurso para escolher o projeto do parque. “Os ativistas, o pessoal do Teatro Oficina querem ser ouvidos na questão do projeto, o que é super valido. Um concurso de projeto é o mais razoável, politicamente correto, mais democrático.”
PL aprovado na Câmara
O projeto que prevê a criação do parque foi aprovado em primeira votação na tarde desta terça (21) pela Câmara dos Vereadores.
O texto recebeu 46 votos favoráveis e nenhum contrário, mas ainda precisará passar pela segunda votação.
Sonho de Zé Celso e anos de disputa
Durante décadas, o terreno foi alvo de disputa entre o dramaturgo Zé Celso, fundador do Teatro Oficina Uzyna Uzona, e o apresentador do SBT.
Dono do local desde a década de 80, o Grupo Silvio Santos pretendia construir três prédios de até 100 metros de altura.
Zé Celso defendia que a construção dos prédios prejudicaria as atividades culturais do teatro e desconfiguraria o projeto da arquiteta Lina Bo Bardi.
O Teatro Oficina também foi inscrito no Livro do Tombo Histórico e no Livro do Tombo das Belas Artes, pelo Iphan (Instituto do Património Histórico e Artístico Nacional) em 24 de junho de 2010.
O tombamento determina os padrões para a preservação das características do espaço, e delimita como entorno a área de proteção visual em frente ao Viaduto Júlio de Mesquita Filho.
Durante anos, Zé Celso e Silvio Santos se reuniram diversas vezes para tentar resolver o impasse do terreno. O dramaturgo morreu em um incêndio em julho do ano passado sem ver o sonho do Parque Bixiga ser concretizado.
Acordo com a Uninove
Durante as investigações da Máfia dos Fiscais, em 2013 , surgiu a informação de que a Uninove teria pago R$ 5 milhões para dois agentes da prefeitura para não fiscalizarem a instituição.
A Uninove foi chamada e colaborou com as investigações. O acordo feito livrou a instituição de processos cíveis.
Para pagar mais de R$ 1 bilhão de indenização, a Uninove vai ceder durante 16 anos um prédio onde vai funcionar a Secretaria Municipal da Saúde e um hospital de média complexidade que irá realizar 600 cirurgias por mês.
Além disso, um imóvel no Bairro do Cambuci será transferido ao patrimônio público municipal e um edifício será construído na Vila Clementino pela Uninove, em terreno municipal, para abrigar um Cartório Eleitoral.
Um dos principais motivos para a assinatura do acordo, segundo o MP, foi o fato de a universidade ter prestado relevantes serviços de saúde à população, inclusive durante a Pandemia de Covid-19.
A Uninove gastou mais de R$ 60 milhões durante a pandemia sem ter a certeza de que esse valor entraria nesse termo.
À época, o promotor Silvio Marques disse era o maior acordo indenizatório da história do Ministério Público de São Paulo, dez anos depois do escândalo ter sido descoberto numa investigação iniciada pela Controladoria do Município, na gestão do então prefeito Fernando Haddad (PT) e de promotores do Gedec, entre eles Roberto Bodini.
Fonte: G1